A contestação dos runenses à construção de uma subestação muito perto de habitações, no âmbito da modernização da Linha do Oeste, subiu de tom com a marcação de oliveiras e pinheiros bravos por parte da Infraestruturas de Portugal, que a população acredita ser para abate.
Na plataforma de cidadãos para a Valorização e Desenvolvimento da Freguesia de Runa, “Runa Acontece”, dia 8 de março, um runense questionava o porquê de todas as oliveiras no caminho para a Granja estarem marcadas, classificando de “vergonhoso”. Os cidadãos já estavam indignados e até já tinham colocado uma faixa a apelar a uma ação cívica porque “querem destruir Runa”, mas, com este “episódio”, acrescentaram uma outra a dizer “não abatam (matem) estas oliveiras sem explicarem, publicamente o porquê de tal inadmissível ação”.
No entanto, dois dias depois foram colocadas redes a proteger e, no dia a seguir, aparece uma faixa a demarcar uma linha no terreno.
Jorge Humberto Nogueira, membro da Comissão Coordenadora Concelhia de Torres Vedras, que já tinha feito um artigo no seu site a falar das razões dos protestos da população de Runa, os fundamentos de uma decisão “estranha” e um povo “deixado à sua sorte”, escreveu ontem sobre o “mistério das árvores azuis” onde, depois de apresentar argumentos, conclui que o mistério “está resolvido”, as árvores “estão marcadas para morrer, resta saber como acaba a sua história”.
Esta situação levou mesmo membros da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras ao local. Na sua página de Facebook, Joaquim Moedas Duarte diz que “havia alternativas quanto à localização, mas a opção teve em conta apenas critérios económicos”.
Segundo o professor de História, a Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras esteve lá [em Runa] e “falou com alguns dos cidadãos que não se conformam”.
Sem aprofundar a questão, fizeram questões como a “população foi auscultada, informada em tempo oportuno?”, a “proximidade deste equipamento é segura para a saúde pública?” a “ocupação de terrenos de elevada aptidão agrícola é economicamente sustentável?” e a “comprovada existência de vestígios arqueológicos, que atestam ocupação humana do Calcolítico e do tempo dos Romanos, foi tida em conta?”.
“A resposta a todas estas questões foi: NÃO!”, escreve Joaquim Moedas Duarte, concluindo: “que pensar de tudo isto?”.
Recorde-se que a contestação à localização da Subestação de Tração de Runa começou no final do ano passado através da plataforma de cidadãos para a Valorização e Desenvolvimento da Freguesia de Runa, “Runa Acontece” e foi, de resto, tema de uma reportagem da RTVON. Para os cidadãos, “a localização desta Subestação, muito perto de habitações e a escassos metros da localidade de Runa, é um perigo para a saúde pública, e até um caminho romano vai destruir”. Por isso, Runa “não pode aceitar, que lhe seja construída mesmo à porta uma central de muito alta tensão (MAT), com todos os perigos advindos das radiações”, explicou esta plataforma.
O Presidente da União de Freguesias de Dois Portos e Runa, João Tomaz, não apenas se juntou a esta indignação, falando em ilegalidades, como assegurou que deu alternativas.
Já a Câmara Municipal de Torres Vedras disse ter concordado com a localização da subestação de Runa e assegurou que, pelos dados que dispõem “não há ricos para a saúde causados pela colocação do equipamento no local”.
Entretanto, o Presidente da Câmara Municipal de Torres foi confrontado pelos deputados em assembleia municipal a quem disse ter feito uma sessão pública, no dia 19 de março de 2018, “a dar nota daquilo que estava a decorrer em termos de consulta pública no que diz respeito à modernização da linha do Oeste e, portanto, com toda a abertura, com toda a transparência para que cada entidade, cada cidadão se pudesse pronunciar sobre esta matéria”.
Além disso, o autarca disse que, em conjunto com a plataforma “Runa Acontece”, iriam reunir dia 23 de dezembro com a Infraestruturas de Portugal para esclarecer o assunto.
Ao que a RTVON apurou, nessa reunião, onde marcaram presença o Presidente da IP e três engenheiros, a empresa explicou com vídeos e de forma técnica como vai ficar a subestação e garantiu que os perigos para a saúde pública “não existem”. Além disso, garantiram que iriam ter um arqueólogo a acompanhar a obra.
Uma reunião que não acalmou nem runenses nem partidos políticos como o Bloco de Esquerda que questionou recentemente o ministro das Infraestruturas se tem conhecimento que a futura subestação, se vai localizar a “100 metros de uma povoação sede de freguesia, perto do Penedo”, no concelho de Torres Vedras, e que os “postes de alta tensão com mais de 40 metros de altura terão um grande impacto paisagístico na zona da Quinta da Casaboa e em toda a sua área envolvente”.
Também na Assembleia Municipal de Torres Vedras, em Fevereiro, o deputado socialista José Vale Paulos alertou que a subestação eléctrica de Runa vai ficar a “escassos metros de moradias do Penedo e de terrenos da Reserva Agrícola Nacional”. Por outro lado, vai “obrigar à destruição” de um caminho romano existente entre duas pontes romanas sobre o Rio Sizandro.