O último mandato do PS ao volante da nossa Câmara Municipal deu de bandeja ao PSD casos tão polémicos que noutro município teriam apresentado uma moção de censura para erradicar os comportamentos abusadores deste executivo. Nada disso aconteceu. A oposição parece estar de quarentena. Optam pelo conforto de ideias ao invés do confronto. Olham, mas não observam. O problema não está na política, mas em quem a tem frequentado, sobretudo. Os dinossauros da política local estão longe de estar extintos. Talvez seja essa a pedra na engrenagem que não permitem que tudo se transforme em algo melhor.
Ao não se vislumbrar uma alternativa, as pessoas deixaram de acreditar. Perante certos episódios que não dignificam a política local, deveria ter havido denuncias com uma tradução em atos consequentes. Reinou a impunidade na maioria dos casos, muitos deles já esquecidos da memória coletiva. Dizem que depois da tempestade vem a bonança, mas em que momento da tempestade estamos?
É desesperante ver que os Torrienses não assistem à rotividade do poder local. Há mais que 40 anos que o Partido Socialista tomou as rédeas do poder e está de tal forma enraizado que parece inamovível daquele lugar onde desenvolveu inúmeros vícios. Quem esteja atento repara que o atual Presidente atingiu o seu “Patamar de Peter”. Isto é, quem nos lidera alcançou um cargo que não tem competência para exercer. E para agravar tudo isso temos direito a discursos muito pomposos para disfarçar algo que é tão evidente.
À medida que o tempo passa, muitas pessoas sentem que não há nada a fazer, por isso, sempre que se aproximam eleições autárquicas, as renitências em alterar o sentido de voto são muitas. O receio de eleger uma equipa pior do que a que lá está é elevada, por isso ou optam por se abster ou então por votar nos mesmos de sempre. E porque é que muitas das pessoas pensam assim? Já se parou para pensar?
Penso ter duas respostas para isso: primeiro, porque a oposição eleita não se conseguiu afirmar como uma alternativa capaz de substituir aquela que governa. Esmorece logo após as eleições, onde após a derrota o sentimento de otimismo irritante dos tempos de campanha é substituído por uma postura sisuda, desmoralizante e com poucas perspetivas de futuro. O empenho deixa de ser continuo e passa a ser intermitente.
Segundo, os eleitores vendo obra feita votam-nos do costume, porque aparentemente tem mais garantias que tudo continuará pelo menos como está. O problema tem sido esse, tendem a não arriscar. No entanto, votar no PS reflete-se em mandatos de favoritismos na contratação pública e clientelas partidárias com avenças intermináveis. Para não falar das atitudes de quem se julga dono do município que não admite ser questionado e recusa-se a assumir responsabilidades. Assiste-se a uma espécie de conformismo autárquico onde já poucos acreditam na mudança. Isto é frustrante. Há que contrariar isso.
A política local tem tido um problema crónico: muita gente a falar com tão pouca coisa interessante para dizer. Infelizmente, não parecem existir muitas pessoas com capacidade para «Pensar Torres Vedras». As que o fazem preferem manter-se fora da bolha que é a política. Sabem que perderão mais do que aquilo que ganham se vierem para este meio…