Desde o início da pandemia que tenho o privilégio de comunicar com muita regularidade através da RTVON. Faço-o com várias formas e linguagens, sobretudo a humanista, a espiritual e a religiosa. Isso tem acontecido estando sempre muito focado nas realidades concretas dos nossos dias. Ao iniciar aqui uma colaboração regular faço-o procurando cruzar formas e linguagens com o intuito de ler os tempos que vivemos. Tenho desenvolvido diversas atividades ao longo dos meus 50 anos de vida. Há uma que sempre me tem acompanhado: a de leitor.
Os tempos que vivemos exigem uma especial atenção à realidade concreta que os leitores têm a missão de fazer. Gosto destas palavras de Alberto Manguel: «Em todos os casos, é o leitor que lê o sentido; é o leitor que concede ou reconhece a um objeto, lugar ou acontecimento uma possível legibilidade; é ao leitor que cabe atribuir significado a um sistema de signos e, depois, decifrá-lo. Todos nós lemos a nós mesmos e todos lemos o mundo que nos rodeia para vislumbrar o que somos e onde nos encontramos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos senão ler. Ler, quase tanto como respirar, é a nossa função essencial.» (Uma História da Leitura, 2020, p. 30).
Que sentido nos tempos que vivemos? A resposta a esta pergunta será o fio condutor da minha colaboração neste espaço, ao longo das próximas semanas. Procurarei estar atento à realidade concreta dos dias que vivemos para, a partir dela, dialogar com outros leitores de hoje e de ontem, utilizando as sabedorias humanistas, espirituais e religiosas. Vou fazer a minha leitura a partir do Convento de Santo António de Varatojo (Torres Vedras), onde resido. Por isso, ela será no âmbito de uma visão franciscana da vida. A densidade de sentido nos tempos que vivemos e nos tempos futuros está estruturalmente ligada à forma como cuidamos uns dos outros: o cuidado é o nosso sentido!