BRAVURA.
A Moldávia, pequeno país entre a Roménia e a Ucrânia, é um dos países mais pobres da Europa. Possui, na região, o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Tem apenas cerca de 3 milhões de habitantes e 30 anos de vida como nação independente da antiga União Soviética.
Sonha tornar-se membro da União Europeia e não pertence à NATO. Tem um passado de guerra. Sangue, suor e lágrimas. Para se ter uma ideia do nível de pobreza na Moldávia, o salário mínimo cifra-se em 44€ e o salário médio não atinge os 260€. Fazendo das fraquezas força e temendo o avanço russo, os moldavos já acolheram mais de cem mil ucranianos (!), fugidos à guerra motivada pela invasão de Putin.
Abriram, diligentes, as suas casas; disponibilizaram hotéis; criaram centros de acolhimento. Abriram fronteiras a todos os ucranianos em fuga, dando-lhes acomodação, alimentos e transporte. Encerraram o espaço aéreo e pediram a introdução do estado de emergência.
A presidente da República da Moldávia, Maia Sandu, afirmou, sem rodeios, que o ataque da Rússia à Ucrânia é uma “flagrante violação das normas internacionais” e pediu aos cidadãos moldavos na Ucrânia para voltarem a casa. Os moldavos são um tremendo exemplo de humanismo. De solidariedade. De dignidade. Bravo!
MANSIDÃO.
Em Portugal (país que acolhe tanta imigração ucraniana para trabalhar arduamente), parece que as imagens de horror chegadas pela TV não sensibilizam Governo, entidades e organizações com poder de intervenção e sociedade civil. Uma estranha mansidão reina no burgo. À data em que escrevo estas linhas, apenas 5 mil ucranianos tinham obtido refúgio entre nós.
Muita conversa, mas muito pouca ação. Uma sociedade estranhamente amorfa, silenciosa, desistente (veja-se a acalmia face ao “assalto” praticado nos combustíveis…).
Entre conversas sobre o futebol e o reality show do momento, a maior indignação que ouço tem a ver com o facto de Paulo Futre entrar na “Rua das Flores”, da TVI. Como se fosse proibido e invulgar uma celebridade fazer uma “perninha” numa novela…
Uma Tragédia da Rua das Flores. Como se a experiência de «El Português» na pantalha do canal de Queluz de Baixo fosse um crime de lesa pátria, trazendo um coro de críticas de virgens tão ofendidas. Aqui, no Brasil, em Inglaterra, nos EUA ou na Cochinchina, é uma situação banal: uma celebridade a fazer de actor. Não tira o lugar a qualquer actor. Uma celebridade não representa. Aparece. Marca presença.
A presença que Portugal não está a marcar na ajuda a tanto milhar de crianças e adultos chacinados por um ditador russo. Por estes dias, só somos um país de mansos entretidos com ‘faits divers’.