O Movimento de Defesa do Promontório da Nazaré lançou esta quarta-feira uma petição exigindo explicações à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre uma obra no Bico da Memória, que teme poder afetar o património identitário da vila.
Em causa está uma intervenção prevista na empreitada de estabilização das arribas da Nazaré, da responsabilidade da APA e que, na zona do promontório do Sítio da Nazaré, “se estende desde o túnel do Ascensor até ao Bico da Memória”, explica a petição.
O Movimento Cívico Pela Defesa do Promontório contesta ainda que o projeto não tenha sido apresentado à população.
O projeto divulgado pela APA prevê, na zona entre o ascensor e o Largo de Nossa Senhora da Nazaré, que a intervenção inclua a remoção de muros existentes e a criação de uma nova barreira com perfis metálicos, a limpeza de vegetação, a criação de um sistema de caleiras de pavimento para recolha de águas pluviais e a criação de uma plataforma suspensa no Bico da Memória.
O movimento “não põe em causa a necessidade da obra” nem a necessidade de “acautelar a segurança das pessoas”, disse hoje à agência Lusa um dos elementos, António Caria.
Porém, exige à APA que explique “por que se vão retirar muros seculares e substituí-los por uma barreira de metal”, ou ainda “construir uma plataforma de metal no Bico da Memória”, alterações que considera serem “um ataque a um património material e imaterial de imenso valor para os nazarenos”.
O Bico da Memória está ligado à Lenda da Nazaré, associada ao ‘milagre’ protagonizado por D. Fuas Roupinho, em 1182, quando perseguia um veado na falésia, ficando à beira de um precipício onde rogou proteção a Nossa Senhora da Nazaré, após o que o cavalo se imobilizou com uma pata no ar, naquele que ficou também conhecido como o Bico do Milagre.
“O património identitário dos siteiros (moradores do Sítio) e dos nazarenos está intrinsecamente ligado ao promontório e, em particular, ao Bico da Memória, no qual reside a essência de ser da localidade”, refere a petição, defendendo que o local não pode “ser profanado nem leviana nem obscuramente por entidades geridas em gabinetes, confortados em técnicos munidos do melhor saber técnico e legal”, mas, “em desrespeito total do que é a identidade e história dos lugares e das gentes”.
Mesmo “acreditando na eficácia técnica da obra projetada, é imperativo que se discuta o impacto que a mesma terá na identidade do local e das suas gentes”, exige o movimento, que questiona, além do impacto estético, a segurança das perfurações previstas realizar na arriba.
Na petição, o movimento exige assim que a APA “informe se esta é a única solução” para o local, admitindo António Caria que “possa ainda haver tempo para se corrigir algumas falhas do projeto por forma a manter o património”.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara da Nazaré, Walter Chicharro (PS), lembrou que se trata de uma obra da responsabilidade da APA, entidade a quem a autarquia “tem lançado um conjunto de alertas”, que espera “sejam tidos em conta”.
Tanto mais “as preocupações com o património são uma marca identitária do executivo”, acrescentou, exemplificando com as intervenções do município em monumentos como o Forte de S. Miguel Arcanjo e a Igreja de S. Gião.
A Lusa questionou a APA, mas ainda não obteve esclarecimentos.
A estabilização das arribas da Nazaré representa um investimento de 1.697.400,00 euros para resolver os problemas de instabilidade e desmoronamento de pedras pela encosta.
A obra foi consignada em janeiro e terá uma duração de oito meses.