A Gazeta das Caldas, jornal regional com uma tiragem de cinco mil exemplares, comemora na quinta-feira o seu centenário com uma edição especial sobre o percurso do semanário que pôs nas bancas 5.611 edições.
A primeira edição do jornal foi publicada em 1 de outubro de 1925, impressa na tipografia Caldense de José da Silva Dias, tendo no cabeçalho, como complemento do título, a classificação de “jornal regionalista”, e sede nos centenários nos pavilhões do Parque, nas Caldas da Rainha, no distrito de Leiria.
Nessa primeira edição, sob o título “Ao que vimos”, o jornal dizia-se “livre, em absoluto, de toda a política de partidarismos” e declarava o propósito de “servir os interesses da região”, onde, na quinta-feira, completará o marco de pôr a circular 5.611 edições e que chegou a ter, nos melhores anos, uma tiragem semanal de 13 mil exemplares.
Os cem anos de história do jornal fazem deste “um documento histórico”, disse à agência Lusa o diretor, José Luíz Almeida e Silva, lembrando que, nas suas várias fases, o semanário adotou entre 1936 e 1946 um caráter mais nacional, passou por uma crise em 1946 que ditou a suspensão das edições durante dois anos, voltando, em 1948 a ser publicado e recuperando gradualmente o pendor mais regionalista.
Em 1975, com a democratização do país, a Gazeta entrou numa nova fase, sendo desde então propriedade da Cooperativa Editorial Caldense e tendo como diretor José Luíz Almeida e Silva, que durante 50 anos dirigiu 2.773 edições do semanário.
Neste meio século “a trabalhar ‘pro bono'” no jornal, onde “até ao final dos anos 80 não havia jornalistas pagos e as edições eram feitas por colaboradores”, José Luíz imprimiu à Gazeta das Caldas novas dinâmicas, “na tentativa de este ser um jornal moderno, aberto, democrático”.
Por vezes “a pregar no deserto”, noutras a assumir-se como “porta-voz da luta contra a construção de uma central nuclear”, noutras ainda a dinamizar debates tentando contribuir para o pensamento crítico na região, a Gazeta das Caldas fez ao longo dos anos um caminho de modernização, apostando na digitalização, na dinamização de iniciativas culturais e na oferta de novos conteúdos, com a emissão de ‘podcasts’.
Nada que salve o jornal de “sofrer a crise que estão a sofrer todos os jornais regionais, nacionais e internacionais”, cujas “formas de subsistência têm de ser repensadas”, defende o diretor que, ao fim de 50 anos, se despede da direção da Gazeta.
“Tinha prometido a todas as pessoas que só queria fazer os 100 anos da Gazeta e depois sairia, porque a caminho dos 75 anos não quero correr o risco de me tornar um peso para a organização”, justificou.
“Passou rápido este tempo longo, talvez demasiado longo, mas algumas das tentativas para a deixar, por razões profissionais e académicas, ou outras, se verificaram inviáveis ou difíceis de concretizar”, escreverá o diretor, na quinta-feira, na edição em que se despede dos leitores, justificando que “o tempo estabelece regras e a coincidência com o centenário do jornal aconselha agora esta decisão”.
A edição comemorativa do centenário, um número especial com 80 páginas, terá, excecionalmente como diretor convidado o juiz Carlos Querido, uma capa desenhada pela ilustradora Cristina Sampaio e grafismo do designer editorial Jorge Silva.
O jornal, com uma tiragem de cinco mil exemplares semanais e três mil assinantes, sai para as bancas às quintas-feiras e conta com oito trabalhadores, dos quais quatro jornalistas.