Xavier Damião confessou e explicou detalhadamente o crime no primeiro interrogatório judicial que ocorreu ontem no Tribunal de Loures.
A notícia avançada pelo Correio da Manhã que diz que, o arguido alegou lembrar-se apenas de ver vários demónios na sala.
“Não me lembro de os matar. Lembro-me de ver dois demónios a atirarem-se a mim. Eu era um samurai e tinha uma espada”, foi desta forma que Xavier Damião relembrou o fatídico dia 13 de novembro de 2020, quando matou o pai e a irmã grávida de quatro meses à facada em Santa Cruz, Torres Vedras.
“Fico chocado com o ato que fiz. Como é que é possível eu ter feito isso? Não queria matá-los”, disse, confrontado com as fotografias do crime. O dupla homicida pediu ainda desculpa à família.
“Ainda hoje não acredito no que aconteceu”, disse a mãe do arguido ao coletivo de juízes.
Durante o julgamento foi ainda ouvida a psiquiatra que o acompanhou, referindo que “há muito tempo que não via alguém tão doente”.
Em maio do ano passado, o Ministério Público acusou o homem de matar o pai e a irmã grávida, em novembro de 2020, em Santa Cruz, Torres Vedras, mas considerou-o inimputável por padecer de esquizofrenia, segundo a acusação.
Após avaliação psiquiátrica, foi diagnosticada ao arguido, de 29 anos, psicose esquizofrénica, associada ao consumo de drogas, sendo a patologia prévia aos factos de que está agora acusado, referia a acusação, que concluiu que a descompensação da sua anomalia psíquica motivou o seu comportamento.
No dia 13 de novembro, entre as 23h00 e as 00h00, Xavier Damião, ao chegar a casa, encontrou o pai na cozinha a cortar alimentos e, após troca de palavras, desferiu-lhe vários golpes em locais distintos do corpo.
O progenitor, na casa dos 60 anos, conseguiu fugir para o quarto do arguido, tendo fechado a porta, dirigindo-se para a varanda, onde acabou por morrer e veio a ser encontrado pelas autoridades.
A irmã, de 37 anos e grávida, ao aperceber-se do sucedido, tentou socorrer o pai, sendo também esfaqueada em vários locais do corpo e acabando por morrer na cozinha.
Após os crimes, o agressor abandonou a residência e fugiu no veículo do pai para o Bairro da Cova da Moura, em Lisboa, onde foi detido no dia 16 por agentes da PSP.
Num comunicado divulgado na altura, a Polícia Judiciária fez saber que “os crimes foram praticados na sequência de uma altercação entre o agressor e o seu pai, por este o repreender pela forma dissoluta como aquele, com hábitos de consumo de estupefacientes, levava a sua vida”.
A irmã e o pai foram encontrados mortos pelos bombeiros e pela GNR, após arrombarem a porta da casa.
As autoridades foram alertadas por populares que, enquanto clientes da peixaria da qual o pai era proprietário, estranharam o estabelecimento estar encerrado e ninguém responder na habitação, que se situa nas imediações, explicou então o comandante dos bombeiros de Torres Vedras, Fernando Barão.
Antes destes crimes, em abril de 2019, o arguido, que se encontrava na residência da mãe, tentou desferir-lhe um pontapé, depois de aquela o ter visto a consumir estupefacientes e de o ter proibido.
Um mês depois, em situações distintas, ameaçou os pais e a irmã de morte, tendo sido na altura transportado até ao Hospital de São José, em Lisboa, para ser avaliado no âmbito de um processo de internamento compulsivo.
Em resultado da descompensação da sua anomalia psíquica, o arguido tinha alterações de comportamento e alucinações.