Um jovem de 22 anos acusado de homicídio de outro em fevereiro, durante os festejos do Carnaval começou hoje a ser julgado no Tribunal de Loures.
O crime ocorreu na Rua José Eduardo César, no centro de Torres Vedras.
O arguido responde pela prática de crime de homicídio qualificado.
O jovem acusado defendeu hoje, no início do julgamento, estar alcoolizado e sob efeito de droga na noite do crime, mostrando-se arrependido, mas sem memória do que se passou.
Embora tenha admitido o crime, o arguido, Bruno Romão, não se recorda de matar o homem, de 32 anos, que encontrou com a ex-namorada na Praça da Batata, na manhã de 26 de fevereiro do ano passado, como descreveu o Ministério Público (MP) na acusação, a que Lusa teve acesso.
Na acusação, o MP diz que o arguido agiu “por ciúmes infundados e pela sua sede de desacatos”.
“Não havia motivo nenhum para ter feito o que fiz”, alegou hoje Bruno Romão, durante a primeira sessão do julgamento.
O arguido disse não ser “próximo” da vítima, nem da antiga companheira.
A vítima e a ex-namorada, segundo a acusação, conheceram-se na noite do crime através de amigos em comum.
A presidente do coletivo de juízes referiu que o arguido já foi condenado por violência doméstica, com pena suspensa, crime este praticado com a ex-namorada, que encontrou na noite de Carnaval com a vítima.
Bruno Romão afirmou ter um “apagão” na memória após um jantar de aniversário, na noite de 25 de fevereiro, tendo ingerido álcool ao longo do dia e consumido haxixe.
“O Bruno estava alterado”, descreveu uma testemunha na sessão da manhã e que esteve presente no jantar, altura em que viu o arguido “espetar” a faca do crime na mesa, como também foi indicado pelo MP, o que Bruno Romão negou.
Já durante a madrugada de 26 de fevereiro, e após ter sido expulso de um bar por causar desacatos, a mesma testemunha cruzou-se com o arguido e assistiu à “confusão” entre ele e a vítima por volta das 9h00.
Após vários “socos” e “pontapés” entre os dois, e mesmo depois de serem afastados, o arguido espetou uma faca “por baixo do mamilo esquerdo, atingindo o coração”, indicou o MP e a testemunha, tendo depois fugido do local.
Com a roupa “salpicada” de sangue, foi até um café para tomar o pequeno-almoço e cruzou-se com o proprietário do bar de onde foi expulso.
“O dono do bar é que disse que eu tinha cometido o crime”, explicou Bruno, momento em que diz ter começado a recuperar a memória.
De forma a perceber o que tinha feito, dirigiu-se ao hospital de Torres Vedras, para onde foi encaminhada a vítima, mas acabou por ser expulso e depois detido por agentes da PSP.
Bruno Romão mostrou-se arrependido, ao que a juíza questionou: “O senhor está muito arrependido, mas não se recorda de nada?”.
“Se eu me lembrasse, é óbvio que me tinha entregado às autoridades”, respondeu, pedindo ainda desculpa à família da vítima.
Durante a tarde de hoje estão a ser ouvidas mais testemunhas, sendo que o arguido tem estado em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Caxias.
Em outubro de 2022, o Tribunal da Comarca Lisboa Norte decidiu levar a julgamento Bruno Romão, acusado pelo Ministério Público de um crime de homicídio qualificado, pelo que pode ser punido com uma pena entre 12 e 25 anos de prisão.
Acusação
Na manhã de 26 de fevereiro, após as festas de Carnaval na cidade, o arguido encontrava-se na Praça da Batata quando avistou Pedro Silva Morgado, de 32 anos, com a sua ex-namorada, refere a acusação.
“Sedento por arranjar desacatos e movido por uma crise de ciúmes”, o arguido caminhou na direção de ambos.
Sem que a vítima “tivesse dito ou feito o que quer que fosse” e “sem lhe dirigir qualquer palavra”, o arguido “começou a empurrá-lo e a desferir-lhe murros,” o que levou a vítima a defender-se, descreve o Ministério Público na acusação.
Ambos acabaram por se envolver em “agressões mútuas”, continuando o agressor a “fazer vários avanços e recuos” sobre a vítima.
Numa dessas investidas, “de forma dissimulada e sem que aquele se apercebesse”, o arguido “empunhou” uma faca e “espetou-a por baixo do mamilo esquerdo, atingindo o coração” de Pedro Morgado.
Nessa altura, o jovem afastou-se “com as mãos no peito”, encostou-se a uma parede e escorregou até ficar deitado no chão, vindo a falecer.
O arguido colocou-se em fuga, deixando a faca no local.
Segundo a acusação, na noite anterior, o agressor já tinha espetado a faca na mesa do restaurante onde participou numa festa de aniversário, guardando-a depois, e andou munido dela durante os festejos de Carnaval pelos bares da cidade.
De manhã, antes de encontrar a vítima, já tinha “tentado encetar desacatos com alguns transeuntes que se encontravam na rua” e veio a ser expulso de um bar “por estar a causar distúrbios no interior”.
O Ministério Público refere ainda que a vítima e a ex-namorada do agressor “nem sequer se conheciam ou falaram nessa ocasião, mas o jovem tinha-se juntado ao grupo de amigos de que ela fazia parte.
Para o Ministério Público, o arguido “agiu motivado por ciúmes infundados e pela sua sede de desacatos sem sequer pedir qualquer explicação” à vítima, estando por isso acusado de um crime de homicídio qualificado.
Com Lusa