O vereador do PSD na Câmara Municipal de Alenquer criticou a autarquia por não comemorar os 450 anos da morte do historiador e humanista Damião de Góis, natural do concelho, enquanto o município prefere comemorar o nascimento.
Em comunicado, Nuno Miguel Henriques acusou o município “de esquecer o grande vulto Damião de Góis, no ano que se assinalaram os 450 anos da sua Morte, não assinalando a efeméride”.
Para o autarca e autor de projetos culturais, “essa comemoração deveria ter sido preparada antecipadamente, pelo menos com dois anos, para ser de âmbito europeu, nacional, regional e local”.
Questionada pela Lusa, a vereadora da Cultura na câmara de Alenquer, Cláudia Luís, justificou que o município “não comemora a morte, porque celebra o nascimento e não a morte”, lembrando que todos os anos é-lhe dedicado um mês de atividades culturais em fevereiro, por ser o mês do seu nascimento.
Para fevereiro de 2025, o programa não está ainda fechado, mas vai integrar conferências, atividades pedagógicas, encontro com escritores, concertos de música sefardita e apresentação de livros, adiantou.
Cláudia Luís recordou que, em 2022, a autarquia do distrito de Lisboa comemorou os 520 anos do nascimento do historiador e humanista do Renascimento, com homenagem a Damião de Góis.
Em 2017, a câmara municipal inaugurou o Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição na Igreja de Nossa Senhora da Várzea, local onde o humanista foi sepultado em 1574 e daí transladado, em 1941, por aquela se encontrar em ruínas.
Damião de Góis (1502-1574), um dos espíritos mais críticos da sua época, foi o representante português na Europa culta do século XVI, o responsável pela Feitoria de Antuérpia, guarda-mor da Torre do Tombo e amigo próximo de Erasmo de Roterdão, colecionador de arte e compositor que soube assimilar a polifonia da sua época, tendo personificado “a tolerância contra os ódios”, como o definiu José Mariano Gago, que dedicou parte dos seus últimos anos de vida à investigação sobre o humanista português.
Essa investigação viria a ser documentada, em 2018, na mostra “Ao encontro de Damião de Goes, para José Mariano Gago”, da fotógrafa Luísa Ferreira, levada exatamente ao Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição, também documentada em livro, com vários depoimentos, entre os quais se lia que “o humanista tolerante, preso (e provavelmente assassinado) pela inquisição, é uma metáfora da luta, no passado e no presente, contra a intolerância, o ódio e a ignorância”.