O Teatro da Rainha estreia, no dia 07 de março, a peça “Às duas horas da manhã”, do alemão Falk Richter, que é a primeira criação da temporada da companhia sediada nas Caldas da Rainha.
A peça, a que o encenador Fernando Mora Ramos se refere como “um arquipélago de monólogos”, coloca em cena personagens da chamada geração Z, “dramatizando a influência da internet no quotidiano dos indivíduos, vidas íntimas sufocadas pelos percursos profissionais, ‘burnout’, stress, solidão, crises nas relações interpessoais, alienação, perda da identidade, a ausência de uma linguagem que permita dar sentido a existências determinadas por uma espécie de ‘script’ que tudo uniformiza e esvazia de sentido”.
Ao palco da Sala Estúdio da companhia sobem Constanze, que perdeu o rastro a Tom, colega de trabalho com quem tem uma relação amorosa; Marc (espécie de ‘alter ego’ do autor); Timo; Lisa, que está grávida; e Max, que se encontra à beira de um esgotamento.
“Todos tentam comunicar com alguém, mas a linguagem escapa-se-lhes”, pode ler-se na sinopse do espetáculo em que, “encerradas dentro si, as personagens perdem-se num labirinto de solilóquios que as impele para o abismo da solidão”.
O espectador é convidado pela companhia a “unir as peças do puzzle que revela a cidade contemplada por Lisa do seu 42.º andar” e a refletir sobre “uma geração emaranhada na teia quotidiana do capitalismo selvagem, cativa de prisões invisíveis onde se funde e confunde o íntimo com o público, o pessoal com o profissional, o real com o virtual”.
“Não há teses neste teatro, há indagações em devir”, sublinhou Mora Ramos num texto sobre a peça que define como “um teatro do mal-estar civilizacional”, em que Richter “põe radicalmente em causa” o modo de vida atual: “este suicídio progressivo, ritmado em velocidade stressante pelo sucesso da carreira, em direção a um nada interior que é, também, uma catástrofe natural e planetária”.
Falk Richter, nascido em Hamburgo em 1969, é autor de peças traduzidas para mais de 25 idiomas. Além de escrever e encenar os próprios textos, tem trabalhado autores contemporâneos e clássicos. É, desde 2015, artista associado no Teatro Nacional de Estrasburgo e, desde 2017, trabalha como encenador residente no Deutschen Schauspielhaus de Hamburgo.
“Às duas horas da manhã” estreou-se em 2015 em Frankfurt e chega agora às Caldas da Rainha, com tradução de Carlos Borges, encenação de Fernando Mora Ramos e interpretação de Mariana Reis, Fábio Costa, Nuno Miguens Machado, Mafalda Taveira, Tiago Moreira e Beatriz Antunes.
O espetáculo estará em cena até ao dia 23 de março, sempre às 21:30, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha.