A Câmara de Sintra vai ceder parte da Casa da Mata da Azóia, freguesia de Colares, para sede da Rede de Arrojamentos de Lisboa e Vale do Tejo, que estuda animais marinhos que dão à costa, foi anunciado.
“Os arrojamentos de mamíferos e répteis marinhos têm sido um fenómeno cada vez mais recorrente na costa sintrense” e desde 2022 que o município de Sintra colabora com a Rede de Arrojamentos de Lisboa e Vale do Tejo (RALVT), mobilizando “atores envolvidos na conservação marinha”, que inclui a remoção de animais do areal, espaço para recolha de “biometrias, amostras biológicas e, sempre que possível, a realização de necropsias”, refere-se numa nota da autarquia.
O executivo camarário aprovou, por unanimidade, submeter à assembleia municipal a cedência gratuita da Casa da Mata da Azóia, no cruzamento da EN247 com a Estrada da Peninha, para sede da RALVT, projeto científico desenvolvido pelo MARE — Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, do Ispa – Instituto Universitário.
O polo do MARE-Ispa, segundo explica a proposta do vereador Pedro Ventura, desenvolveu “na última década um trabalho considerável com espécies marinhas, nas áreas da ecologia, evolução, comportamento, conservação e monitorização em áreas marinhas protegidas”, integrando, com outras seis instituições, o centro de investigação MARE, que reúne “mais de 400 investigadores”.
A RALVT, que conta com financiamento do Fundo Ambiental, integra a Rede Nacional de Arrojamentos, gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), bem como a rede local da área de Lisboa e Vale do Tejo, que abrange os municípios entre a Lourinhã e Setúbal.
O município sintrense, como todos os concelhos do país, beneficia diretamente de recursos marinhos e de uma influência climática ligada ao oceano Atlântico, e no sentido do acompanhamento “da ocorrência de arrojamentos de animais marinhos na zona litoral de Sintra” importa “garantir a manutenção de serviços de monitorização científica” como os da RALVT, considera-se na proposta.
De acordo com a minuta do protocolo, a firmar entre o município e o Ispa, a que a Lusa teve acesso, a autarquia compromete-se a ceder parte da Casa da Mata da Azóia, e “à recolha de mamíferos e répteis marinhos arrojados” no litoral sintrense e “transporte para zona apropriada ao seu encaminhamento”.
O Ispa disponibiliza o material necessário para a realização das atividades do projeto, que compreende a recolha de informação sobre ocorrência e distribuição de espécies marinhas na costa continental portuguesa, e avaliação das causas de mortalidade.
A recolha de amostras biológicas, contribuindo para o banco de tecidos de animais marinhos, a coordenação de respostas em situações de mortalidade elevadas e apoio a arrojamentos vivos, e “aumento do conhecimento científico e da Literacia dos Oceanos”, através da disseminação de resultados do projeto são outros dos objetivos.
Segundo a RALVT, em 2024, no litoral de Sintra, registaram-se 12 arrojamentos, nomeadamente de sete exemplares de golfinho-comum, um bôto, dois de tartaruga-comum e um de tartaruga-de-couro, estimando-se que 10% por doença e 50% por pesca acidental.
No mesmo período, em Lisboa e Vale do Tejo, registaram-se 92 arrojamentos, nomeadamente de 43 exemplares de golfinho-comum, oito de roaz-corvineiro, sete de boto, três de golfinho-riscado, sete de tartaruga-comum, dois de baleia-anã, um de foca-comum, e um de cachalote-pigmeu, causados 5% por doença e 30% por pesca acidental.
Nos anos anteriores, no litoral de Sintra registaram-se 24 arrojamentos (2023) e 12 (2022), enquanto em Lisboa e Vale do Tejo ocorreram 118 em 2023, com destaque para 90 golfinhos-comum e 19 cetáceos não identificados.
Para o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, citado na nota da autarquia, a “defesa do ambiente e dos oceanos é uma prioridade do executivo”, sendo “fundamental realizar a monitorização da ocorrência de arrojamentos de animais marinhos” e “prestar apoio em situações que comprometam o bem-estar destes animais”.
A autarquia submeteu a financiamento do Portugal 2030 a recuperação da Casa da Mata da Azóia, incluindo o restauro ecológico envolvente de 12 hectares, num investimento elegível de 218.612 euros, com 87 mil do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder).