A Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Leiria rejeitou esta quarta-feira eventuais desvios do traçado da linha ferroviária de alta velocidade (LAV) Lisboa — Porto, após ser conhecido que o Médio Tejo apoia uma proposta alternativa.
Num comunicado, a CIM da Região de Leiria manifestou “perplexidade e total oposição à notícia de hoje que dá conta da apresentação de uma proposta alternativa para o traçado” da LAV, com passagem pela margem esquerda do Tejo, “deslocalizando a estação projetada” para a zona da Barosa, em Leiria, e próxima da Marinha Grande, “em alegado benefício de localidades do Médio Tejo e Santarém, e afastando a LAV da Região de Leiria e do Oeste”.
“Esta proposta, desenvolvida por interesses económicos privados e com o patrocínio da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), embora legítima, não acrescenta qualquer valor ao processo em curso, antes introduzindo confusão e aleatoriedade num projeto nacional já sujeito a sucessivos atrasos”, salientou a CIM.
A CIM do Médio Tejo manifestou esta quarta-feira satisfação pela existência de uma proposta alternativa para o traçado da LAV no acesso ao novo aeroporto de Lisboa, previsto para Alcochete, destacando benefícios em termos de coesão territorial.
“Foi-nos apresentado um trajeto que beneficia a região e, diria mais, todo o interior, com um sentido de coesão territorial e de valorização do Médio Tejo”, disse à Lusa o presidente da CIM, Manuel Jorge Valamatos, na sequência de uma reunião com os promotores da proposta.
O estudo para um novo traçado entre o Porto e Lisboa, correspondente à ligação entre Soure e Carregado e apresentado aos autarcas do Médio Tejo, foi desenvolvido pela GV Consultores de Engenharia em parceria com a ADFERSIT — Associação para o Desenvolvimento dos Transportes em Portugal e a CIP.
O documento defende a passagem da linha pela margem esquerda do Tejo, beneficiando diretamente localidades como Santarém, Almeirim, Ourém e Fátima, bem como várias cidades do Médio Tejo, entre as quais Entroncamento, Tomar e Abrantes, estendendo a ligação a Castelo Branco, Covilhã e Guarda.
A proposta prevê subestações intermédias de Leiria/Fátima e Santarém que respondem a dinâmicas regionais e turísticas, como o turismo religioso em Fátima, estimando captar parte dos cinco milhões de visitantes anuais, e o desenvolvimento industrial em áreas como Marinha Grande e Leiria.
A CIM da Região de Leiria lembrou que o troço Soure — Carregado da LAV obteve em julho “a declaração de impacte ambiental positiva”, o que permite avançar com a obra.
“A eventual alteração do traçado agora proposta significaria anular anos de estudos técnicos, avaliações ambientais e decisões de planeamento democraticamente validadas”, sustentou, apelando “ao Governo e às entidades responsáveis para que rejeitem propostas que fragilizam a credibilidade e a execução da linha de alta velocidade em Portugal”.
Para esta CIM, “a abertura de novos cenários, patrocinados por interesses económicos circunstanciais, compromete a clareza e a seriedade do processo, desviando atenções e energias daquilo que verdadeiramente importa, a conclusão das diferentes fases já aprovadas”.
A linha de alta velocidade Porto — Lisboa vai permitir uma velocidade máxima de 300 quilómetros por hora e destina-se a tráfego de passageiros.
O troço Soure — Carregado atravessa os concelhos de Rio Maior, Azambuja, Alenquer, Cadaval, Caldas da Rainha, Alcobaça, Porto de Mós, Leiria, Marinha Grande e Pombal.
Integram a CIM da Região de Leiria os municípios de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós.
Já da CIM do Médio Tejo fazem parte Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira de Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha.