A caminhar em 2023 para os 50 anos de planeta Terra, dei por mim a pensar como a vida nos vai ensinando a despojar o ego e a nos sentirmos pertença. Pertença da Família; de Deus; do Universo.
A morte recente do meu Pai, Fernando Pereira Sá, relembrou-me a importância vital da raiz, da casa. Por estes dias, graças às novas tecnologias, tenho conseguido apoiar a minha mãe, D. Francelina, na casa do Turcifal.
Em teletrabalho, nas sobras de tempo, nas ruas da Vila do Turcifal ou da Cidade de Torres Vedras, tenho recebido inúmeras manifestações de pesar. Agradeço, sensibilizado.
Muitas das pessoas, mais ou menos conhecidas, que me têm abordado não se lembram do meu nome. E do meu ontem de jornalista: na SIC, em jornais e revistas nacionais e regionais; da minha experiência premiada na comunicação empresarial; ou do meu percurso na política.
Algumas poucas, mais próximas e/ou velhas amizades de ciclo, liceu ou fins-de-semana em Santa Cruz, tratam-me com intimidade por Nuno. Ou pelo nome profissional. E algumas tem havido que se lembram da minha cara. O Trinta. Mais velho, mais gordo, com menos cabelo.
Em quase todas as abordagens há um denominador comum: sou o filho (único) do Sr. Fernando Sá. Do Fernando. Do Sá do Turcifal.
Na dor da perda, sem consultar o extenso currículo e a obra feita pelo meu progenitor, recordo de memória algumas marcas da vida de Fernando Sá. O Sá do Turcifal.
Oriundo de família humilde, meu Pai logrou trabalhar nos Móveis Varandas, em Lisboa (na época, uma das lojas de mobiliário mais reputadas da capital). Desenhador inato, por apenas possuir a 4.ª classe (o mínimo exigido era o 6.º ano, que tirou numa fase mais tardia da jornada), foi-lhe recusada a Bolsa da Gulbenkian. Duro golpe, amenizado com a conclusão do Curso de Desenho da Escola Álvaro Torrão com a nota máxima: 20 valores.
Homem simples, para poder ganhar a vida, meu Pai abriu lojas de móveis e velharias na Freguesia do Turcifal. De volta à sua terra natal (e amor de uma vida), fundou a Igreja Evangélica local; criou a Associação de Socorros da Freguesia (foi o Presidente-Fundador e Sócio Honorário); foi o mentor e grande responsável pela elevação do Turcifal a Vila; organizou feiras de velharias e antiguidades; reuniu espólio do concelho (e não só) em vários espaços e monografias; criou e ajudou a criar várias IPSS (no concelho e não só). Um homem da terra, durante décadas correspondente do jornal «Badaladas». Uma vida em prol do Outro. Da comunidade.
E dou comigo a pensar: que orgulho sinto em ser seu filho. E que maior bênção um homem pode ter em ser filho de alguém assim.
Com gratidão, enternecido, por vezes até comovido, continuo a receber vários telefonemas, abraços nas ruas, mais mensagens telefónicas ou nas redes sociais: o filho do Fernando. Do Sá do Turcifal.
Vejam: Deus me dê vida e saúde para, daqui a uns largos anos, não só ser tratado e cumprimentado por “filho do Sr. Fernando Sá e da D. Francelina Trinta”, mas também para ser tratado e cumprimentado por “pai da Filipa Sá”.
Meus amigos, este tratamento remete para o essencial, para o que de mais importante e sagrado já houve na vida deste Nuno Filipe.
Para o que há de mais universal e divino na existência de um ser humano.
Pertencer.
